/As Marcas do Novo

Jorge Forbes

Imagine uma frase sem ponto, um
dia sem noite, um caminho sem parada. Seria tudo igual, irrelevante, sem graça,
dada a ausência do ritmo que fabrica o sentido, no contraste das situações.
Quem vive quer contar e quando perdemos o ritmo entramos no contínuo mortífero.

O ano novo é uma das principais
pontuações que nos marca. Ele escande o tempo, classifica lembranças, promove o
futuro. O ano novo é palco de nossos sonhos, de nossos planejamentos. Cada um
tem seu método de jurar o ano novo: uns o fazem em segredo, fechando até os
próprios olhos; outros, ao contrário, fazem um pacto em tabelas complicadas,
com marcações dia a dia, especificando o caminho a trilhar; ainda outros
preferem fazer compromissos com a pessoa amada, escolhendo o melhor lugar para
testemunhar suas esperanças. Uma praia, uma cachoeira, uma montanha, uma
árvore, um rochedo, uma ponte.

O ano novo é generoso, pois se
renovando todos os anos – uma vez que ele nunca é datado – o que não funcionou
em um ano, terá outra chance no próximo ano novo. Nós, curiosamente, vamos
ficando velhos, mas o ano é sempre novo. Já notaram? E quanto mais velhos,
vamos ficando espertos em anos novos. É uma paradoxal vantagem da idade.
Acumulamos anos novos nas gavetas de nossas maiores emoções, de ponta a ponta
de nossas vidas: os nascimentos, os acidentes, as formaturas, os prêmios, as
perdas, as mortes e, muito especialmente, os amores. O ano novo adora os
amores, razão pela qual todas suas representações aludem aos encontros de amor.
O navio, o champanhe, os fogos, os saltos das ondas, a dança, tudo isso é para
ser feito de mãos dadas, nem que seja com a saudade.

O ano novo é flexível ao horário
de cada país – muitos ficam em frente à televisão brindando em várias línguas a
sua chegada e escolhendo, na comparação, o melhor cenário. Ele também é
flexível aos nossos estados íntimos, se adequando do bom ao péssimo humor.

Uma coisa é certa, ninguém escapa
ao ano novo. Não dá para resistir à sua chegada, não dá para atropelá-lo, não
dá para ignorá-lo. Ele marca uma data para todos, nisso é universal; ele
possibilita a cada um contar e fazer a sua história, nisso é singular.

A você de jogar e fazer do seu,
um bom ano novo. Sorte!

Jorge Forbes é psicanalista. Artigo publicado na revista
IstoÉ Gente, edição bimestral/janeiro 2015.